lunes, 24 de septiembre de 2012

Humberto Pinho Da Silva/Portugal/Septiembre de 2012



NOS 150 ANOS DO “AMOR DE PERDIÇÃO”




Decorreram em Maio as comemorações dos 150 anos da publicação do célebre romance de Camilo Castelo Branco.
A obra é sobejamente conhecida, assim como o autor. António Feliciano de Castilho, em carta datada de 02/01/1866, considera-o Mestre - “ Sim senhor! É mestre e cem vezes mestre e de todos os nossos clássicos nenhum há que eu leia com tamanho gosto e proveito.”
Vasco Botelho de Amaral, um dos nossos maiores linguistas, in: “Glossário Critico de Dificuldades da Língua Portuguesa”, regista: (…) a linguagem de Camilo é riquíssima de valores expressivos (…). Em todas as páginas revela o Mestre o diligente estudo a que se consagrou, auscultando os dizeres das bocas populares e investigando nos clássicos, documentos ignorados, mas de inestimáveis riquezas idiomáticas. Junte-se a isto o extraordinário génio verbal e estilístico do escritor, e como resultado se nos apresentará a admirável vernaculidade de linguagem de Camilo.”
Antes de versar, sumariamente, a célebre e popular obra de Camilo, vou tecer brevíssima biografia, do considerado, com inteira justiça, o maior escritor da língua portuguesa:
Nasceu em Lisboa, no Largo do Carmo, a 16 de Março de 1862. Ficou órfão muito cedo. Com a irmã vai para Vila Real. Após o casamento desta acompanha-a, e vive com ela, em Vilarinho da Samardâ.
Por essa época tinha Camilo 16 anos. Estuda latim e francês com o Padre António de Azevedo. Pensa seguir a carreira eclesiástica.
Indo a Ribeira de Pena, encanta-se por guapa moçoila, e casa com 19 anos. Fica viúvo e cursa medicina, no Porto. Desiste, e matricula-se na Universidade de Coimbra.
Parte para Vila Real e participa nas tropas do General Miguelista Macdonell.
De seguida entra no seminário, que abandona, passando a viver da escrita.
Apaixona-se, então, por Ana Plácido, esposa de Pinheiro Alves e é acusado de adultério. Preso e julgado, foi absolvido. Mais tarde casa com ela, num prédio da Rua de Santa Catarina, no Porto, atualmente a redação do jornal “ A Ordem”.
Falemos, agora, do “ Amor de Perdição”, obra que Unamuno, afirma: “ Es uno de los libros fundamentales de la literatura ibérica ( castellana, portuguesa y catalana) - “ Por Tierras de Portugal y España”.
O enredo da obra é apresentado como verídico. Todavia tem um pouco de ficção. Para não alongar a crónica, passo a transladar parte do parecer de Magalhães Basto, conhecidíssimo historiador portuense, apresentado em “ Homens e Casos Duma Geração Notável”:
“ Simão Botelho existiu: não há que duvidá-lo. Existiu, e esteve encarcerado na Cadeia da Relação do Porto desde 12 de Março de 1805 até 17 de Março de 10807. Era solteiro, estudava na Universidade de Coimbra, mas residia em Viseu quando foi preso.
(…) Qual o crime que merecera tão grave pena? O assassínio do pretendente de Teresa de Albuquerque - Primo Baltazar - como conta o romancista?
Pedro de Azevedo (…) erudito investigador, já falecido, no documentado estudo sobre os “ ANTEPASSADOS DE CAMILO”, dá uma resposta a esta pergunta. O crime de Simão, segundo o processo que aquele autor estudou, foi o do homicídio frustrado, cometido contra a pessoa dum criado de servir, e não contra um nobre Senhor de Castro Daire, como no romance. O crime foi praticado com clavina na Rua Direita de Viseu, em 3 de Agosto de 1804, um quarto de hora depois da meia noite Simão teve um cúmplice: não o ferrador João da Cruz, mas José Jerónimo de Loureiro e Seixas. No campo das hipóteses, parece-me absolutamente admissível que a causa do crime fosse uma mulher, embora se não chamasse Teresa, nem fosse filha de Tadeu de Albuquerque, que segundo parece, nunca existiu.
O “ Amor de Perdição” foi sentido, foi “vivido” por Camilo como nenhuma outra sua obra. Pode ser contrariado por documentos. Mas que importa? (…) … hão-de crê-lo verdadeiro todas as pessoas que o lerem”.

Assim termino, recomendando veemente, ao leitor, que teve a paciência de me ler, que releia e saboreie, mais uma vez, esta obra-prima da literatura portuguesa, publicada há 150 anos.



No hay comentarios: