A FESTA DE NATAL
Em véspera de Natal, descia em companhia de jornalista do “L’Osservatore Romano”, que na época residia no convento anexo à Basílica de Santo António, a via Merulana, em direção à Praça Maria Maggiore.
Tinha ido a Roma visitar amigo, irmão do venerando Francisco.
Vínhamos animados, a conversar sobre o efeito nefasto de algumas seitas, que proliferam pelo Brasil, e provocam, nas mentes menos esclarecidas, verdadeiras lavagens cerebrais.
Dizia-me o meu interlocutor, que a expansão dessas “Igrejas”, ditas evangélicas, mas que muito pouco têm do Evangelho, deve-se aos líderes usarem linguagem chã, despretensiosa e quantas vezes astuciosa. Bem diferente das verdadeiras Igrejas Evangélicas.
Ao entrarmos na via Liberiana encaramos com grupo de estrangeiros: eram brasileiros e vinham acompanhados por padre franciscano, de ascendência alemã, conhecido de meu amigo.
Após as saudações e o contentamento de toparmos, no centro da Cidade Eterna, com a nossa gente, gente que fala a nossa língua, alguém, aproveitou para contar história, que ouvira numa assembleia cristã, já que estávamos em plena quadra natalícia.
Considerei-a bastante oportuna e merecedora de profunda reflexão. Por isso apresento-a, mais ou menos como a ouvi:
Numa paróquia de povoazinha do interior do Estado de Santa Catarina, andavam todos em lufa-lufa, na preparação da festa natalícia. As catequistas e grupo de jovens, haviam preparado pequena peça teatral, intercalada com leituras bíblicas e muitas canções apropriadas à época.
O salão, que era amplo, foi alegrado com brilhos, flores purpurizadas, e vistosas bolas, de variegadas cores, e no proscénio havia lindas avencas e sambambaias, em cascata.
Encantoado, entre panos brancos e azuis, estava um presépio em cascata, e ao centro, dormia o Menino, nu, de madeira pintada, bem agasalhado em mantilha branca.
Tanto o salão como o presépio estavam mergulhados em penumbra, que mal permitia divisar o grupo de crianças, que sentadas no chão, tagarelavam em ruidoso murmúrio.
Para espanto dos petizes, destacou-se do negrume, uma figura quase translúcida, que lentamente aproximou-se das crianças.
Assombradas com a súbita aparição, emudeceram.
Tony, o mocinho mais espigadote e reguila, ganhando coragem balbuciou:
- É Jesus! …É Jesus! …É Jesus! …
Foi então que a Gé, ousou falar:
- O que queres!? Vens trazer-nos brinquedos?!
Erguendo-se num ápice, a sapeca Lili, dispara:
- Eu queria a boneca que vi na rua do Conselheiro Mafra e a consola que o bazar do Centro Comercial, vende.
Jesus, atento, mas silencioso, toma expressão de bondade.
Tomé, vendo que Jesus nada trazia, declara irado:
-Não Te quero! …Não Te quero! …Vens visitar-nos no Natal e não trazes nada!? - E rematou com a frase que ouvira ao pai: - “A religião é o ópio do povo!”
O semblante de Jesus apagou-se de tristeza, e carinhosamente, abrindo os braços num gesto de ternura, sussurra:
- Eu sou o “presente”! Trago-vos a Minha paz! Dou-vos o Meu Amor!
Mal tinha acabado de falar, iluminou-se o salão e o leitor de Cds, que estava dissimulado por cortina de veludo, jorrou canções natalícias.
Em alegre procissão, a multidão entra na sala e apressasse a buscar os melhores lugares.
Adiante, rodeado de crianças que tangem palminhas de felicidade vinha o Papai Noel, vestido de encarnado, com longas e falsas barbas brancas, que escorriam-lhe para o peito; falsas como a neve do presépio.
Sobre os ombros trazia agigantado saco, repleto de brinquedos e guloseimas.
Explodem as palmas e sorriem os rostos. A festa de Natal vai começar…
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